O vetor, que era primordialmente rural, tem ficado cada vez mais próximo do ambiente doméstico com a urbanização desenfreada
O pesquisador do Laboratório de Imunoparasitologia da Fiocruz/Pernambuco, Filipe Dantas Torres, explicou que a leishmaniose passa por ciclos de aumento na ocorrência, e que isto pode explicar o que se desenha hoje em várias localidades. Em Pernambuco, nos últimos dois anos foram registrados cerca de um caso por dia da leishmaniose visceral, que são os mais graves.
Entre os fatores que apontam para a manutenção e aumento da incidência de casos está a invasão humana nas áreas de mata onde os vetores flebotomíneos (popularmente chamados mosquito Palha) já viviam antes da construção de casas e bairros. Outro fator é a capacidade deste inseto em se adaptar ao perímetro doméstico.
E é por isso que a luta apenas contra o vetor não é suficiente para o enfrentamento ao adoecimento da população. “Você nunca vai erradicar os flebotomíneos, porque simplesmente eles têm uma capacidade de adaptação muito grande, além de terem áreas de refúgios. Vamos ter sempre populações selvagens desses insetos que podem recolonizar o ambiente peridoméstico depois de um período. Até porque os inseticidas têm feito curto”, explicou.
Dantas Torres destacou que a face social da leishmaniose é um complicador importante das estratégias de controle. “Historicamente negligenciada, ela acomete principalmente as camadas mais pobres da sociedade e esta associada a condições de moradias que favorecem a proliferação dos vetores. Além disso, pessoas com baixa imunidade e baixa nutrição são mais susceptíveis. Por isso crianças malnutridas tem mais chance para desenvolver a doença”, exemplificou.
Na avaliação dele, as medidas de controle utilizadas são ineficazes e precisam pensar as comunidades de uma forma mais global. “Se você for pensar a melhora as condições de vida da população é a medida de controle ideal. Enquanto tivermos pessoas que se alimentam mal, moram em casas em condições precárias e em contato todos os dias flebotomíneos, o controle nunca vai acontecer. O que pode acontecer é a melhora no serviço de diagnóstico e no tratamento, mas sempre haverá casos e agravamentos”.
Animais
Além do enfrentamento da doença em humanos, os cães também são abordados porque adoecem e são reservatórios do protozoário. Para o trato animal, o Brasil liberou em 2016 o primeiro remédio para tratar os cães.
Ainda relacionado aos cachorros, um estudo da Fiocruz/PE identificou recentemente os testes sorológicos Alere, feito em alguns municípios, estavam gerando resultados falso negativo, e com isso deixando muitos animais fora de medidas sanitárias.